Mimosa boca errante à superfície até achar o ponto em que te apraz colher o fruto em fogo que não será comido mas fruído até se lhe esgotar o sumo cálido e ele deixar-te, ou o deixares, flácido, mas rorejando a baba de delícias que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia, impaciente de sugar e clausurar inteiro, em ti, o talo rígido mas varado de gozo ao confinar-se no limitado espaço que ofereces a seu volume e jato apaixonados como podes tornar-te, assim aberta, recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa, que devagar vais desfolhando a líquida espuma do prazer em rito mudo, lenta-lambente-lambilusamente ligada à forma ereta qual se fossem a boca o próprio fruto, e o fruto a boca, oh chega, chega, chega de beber-me, de matar-me, e, na morte, de viver-me.
4 comments:
Delicia
beijos...
E, no entanto, a perna precisava de ser um tudo-nada mais alta. A pose é bonita!
Wonderful shape...
"Mimosa Boca Errante"
Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.
(Carlos Drummond de Andrade)
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